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Leonardo, mais de quinhentos anos atrás, percebeu que se certas áreas de uma pintura fossem representadas com menos precisão, elas nos pareceriam mais reais. Afinal, não é natural enxergar com nitidez até o último plano; as coisas devem ser turvas, e ainda mais à medida que se afastam de nossos olhos. Ao retratar o mundo com menos acuidade, Leonardo o tornou mais convincente. Pois a pintura não trata das coisas, mas do modo como as vemos. Quando enxergamos exageradamente bem, e tudo nos parece fixo, silencioso e limpo em demasia, achamos que estamos diante de um outro mundo, de um cenário ou miniatura. A fotografia encurta, faz do mundo casa de bonecas.

Não há figuras humanas. As fotografias tratam da fixidez das coisas em oposição à fugacidade dos animais. Todas são cenas noturnas. Momentos em que as coisas sobrevivem aos seres, a cidade se torna maquete, a paisagem se torna natureza-morta. 

Fernando Burjato, 2009

 

STRATEGY OF THE RUPTURE 

Leonardo da Vinci, more than five hundred years ago, noticed that if certain areas of a painting were represented with less precision, they seemed to us more real. After all, it is not normal to see the definition of objects clearly, the things should be obscure and even more so as our vision of them becomes more distant. By portraying the world with less accuracy, Da Vinci made it more convincing. A painting is not about the objects themselves, but in how we see them.

When we see images too clearly everything seems rigged, silent and overly clean, we feel as if we are in another world, in a staged scene or a scaled miniature. The photograph shrinks, making the world into the size of a dollhouse.

There are no human figures. The photographs deal with the firmness of objects versus transience of animals. All of the scenes are take place at night, moments when the objects survive the living beings, the city becomes a mock up, the landscape becomes a still life.

Fernando Burjato, 2009